terça-feira, 16 de outubro de 2007

O Espaço Cultural CPFL

Da Redação
Cultura Multimídia

  • Ambiente e Proposta
    Por: Débora Nogaroli e Tatiana Valle

O Espaço Cultural CPFL oferece gratuitamente, desde 2003, programações diárias promovendo a democratização cultural como palestras, conferências, apresentações musicais, exibições de filmes, mostras e espetáculos teatrais e de dança.

Ao entrar no Espaço, o visitante já se depara com uma pequena exposição de arte e alguns lançamentos. Mais adentro há a Galeria de Arte CPFL, com 600m², destinada a exposições e a eventos especiais; o Auditório Umuarama, que conta com um espaço de 150 lugares, equipado com um projetor para as exibições de filmes e apresentações de música erudita; o lounge, uma área multimídia; e, por fim, o Café Filosófico Bistrô que funciona de terça-feira a domingo a partir das 18 horas, e é onde acontece o Café Filosófico, as apresentações de Sarau e MPB, além de oferecer uma variedade de cafés e um cardápio variado.

Auditório Umuarama - Cia CPFL de teatro Café Filosófico Bistrô
Lounge Multimídia Galeria de Arte

A cada ano, desde a sua criação, o Espaço Cultural CPFL aborda um tema, e desse ponto sugere uma reflexão. Em 2003, o projeto discutido foi Balanço do Século XX – Paradigmas do Século XXI que atraiu um público de 23 mil pessoas. No ano seguinte, o número de visitantes aumentou para mais da metade do que o ano de estréia, 65 mil pessoas, e o projeto deste ano foi Sociedade Contemporânea - vida, perigos e oportunidades, abordando debates sobre o mundo atual visto pela economia, ciência, sociologia, filosofia e artes através de oficinas de cinema, MPB, música instrumental e música erudita contemporânea e espetáculos. O destaque deste ano foi a aula Magna ministrada por Ariano Suassuna e a mostra de cinema Retrospectiva 2003.

Em 2005 o espaço cresceu, assim como o público – que chegava a 73 mil pessoas – o Café Filosófico, desde então, pode ser acompanhado semanalmente pela TV Cultura. O projeto sugerido deste ano foi Novas identidades – a vida em transformação: conhecimento, sabedoria e felicidade que tinha como objetivo principal debater as novas descobertas da ciência e os novos caminhos da economia.

Ano passado, o tema que era A invenção do contemporâneo - conhecendo e criando novas formas de vida promovia a discussão sobre as conseqüências do mundo globalizado em cada um, refletindo sobre terrorismo, violência urbana, novos estilos, saúde, nutrição, corpo, movimento e superação dos limites. Este ano foi marcado pela estréia do Sarau de Poesia inaugurado pela neta de Vinicius de Moraes, Mariana de Moraes, e pelas atividades de dança contemporânea e de poesia. Dentre outros nomes importantes, o ano de 2006 contou com a participação de Christopher Flavin (Presidente da World Watch Institute), André Trigueiro (jornalista da GloboNews), Charles Bernstein (poeta norte-americano), Delfim Netto e Márcia Tiburi.
Neste ano de 2007 o projeto é O fim de um mundo não é o fim do mundo - Como sobreviveremos no século XXI? e aborda os problemas que afetam, ou futuramente afetarão, a vida do planeta e, conseqüentemente, a dos humanos, como as mudanças climáticas, violência, entre outros.

O Espaço Cultural CPFL se localiza em Campinas, na Rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632. Mais informações no site http://www.espacoculturalcpfl.com.br/ ou pelo telefone (19) 3756-8000.


  • A Opinião do Público
    Por: Gabriela Borini e Isabelle Ribeiro

O grupo Cultura Multimídia foi averigüar a opinião do público acerca do Espaço Cultural CPFL e constatou que a iniciativa da companhia de confluir em um único lugar diversos meios culturais e sem cobrar por isso do visitante ganhou bastante aderência da população não só campineira, mas de visitantes da região.

Rosa Maria Daolio, 52, vem de Amparo pelo menos uma vez por mês para conferir a programação musical ou as sessões de cinema, além de acompanhar o Café Filosófico pela televisão com freqüência. Segundo ela, a infra-estrutura do local é excelente e os eventos são de ótima qualidade. Do mesmo modo pensa Valter Luis da Silva, 44. Visitante assíduo dos espetáculos infantis por conta da filha. Valter e sua mulher consideram ótimas as peças, mas fazem uma observação: “poderia haver uma ‘brinquedoteca’ para as crianças enquanto acontecem os eventos dos adultos, porque as crianças, geralmente, não vão entender uma discussão filosófica, por exemplo, e a gente deixa de vir mais vezes por não ter com quem deixá-las”.

A nota média dada pelo público entrevistado ao Espaço, considerando a sua infra-estrutura, a qualidade dos eventos e a variedade da programação, foi 9, numa escala de 0 a 10; isso mostra que o Espaço tem correspondido às expectativas dos visitantes, assim como afirma a colombiana Carolina Macias, de 25 anos, em sua primeira visita: “achei muito boa a qualidade desse show (fazendo referência ao show de Fred Martins, no domingo), o lugar é bonito, gostoso, amplo. Gostei bastante também da iluminação. Tudo estava ótimo”.

O Espaço tem programação diária e esse é mais um dos fatores que agradam o público, pois a não possibilidade de visita em um dia é compensada por outros seis dias de eventos variados.


  • Um Show de MPB
    Por: Gabriela Borini

O jovem compositor, cantor e instrumentista Fred Martins – vencedor do Prêmio Visa 2006, na categoria composição – deu, literalmente, um show de música brasileira em apresentação no Espaço Cultural CPFL, em Campinas, no domingo, 14.

No Café Filosófico Bistrô, um ambiente bastante aconchegante do local, o público fã de MPB pôde conferir as músicas do seu novo CD Tempo Afora. Depois de Janelas e Raro e comum, Fred traz nesse novo álbum belas canções como “Tempo Afora” – que dá o nome ao CD – e “Domingo e Feriado”, além de canções já conhecidas do público: “Novamente”, na voz de Ney Matogrosso; e “Flores”, interpretada por Zélia Duncan.

O show bastante aplaudido, ainda contou com a parceria de Chico Chagas, que, após a oportunidade dada pelo colega de palco, teve um solo e surpreendentemente tocou com um arcordeon uma música de Tom Jobim, no ritmo de um tango-balada, conforme contou o músico ao relatar de onde surgiu a idéia.

A participação de Chico Chagas, a iluminação e a acústica do ambiente, os arranjos das músicas e o talento de Fred Martins não deram margem a oposições: o show foi extremamente agradável aos olhos e ouvidos de todo público.

* Ouça um pedaço da música de Fred Martins no seu próprio Windows Media Player clicando no quadrado ao lado:




E mais: Entrevista Exclusiva!
Por: Isabelle Ribeiro e Tatiana Valle

No dia 15 de outubro aconteceu um show e noite de autógrafos com o consagrado compositor Chico César e a cantora Ana Salvagni. Juntos no palco pela primeira vez, apresentaram a junção de trabalhos distintos e independentes, mas que se afinam e se entrelaçam na musicalidade da poesia e na poética musical.

Após o evento, em entrevista exclusiva para o grupo Cultura Multimídia, Chico César fala sobre a cultura brasileira.

Grupo Cultura Multimídia: O que você acha do povo brasileiro em relação à cultura?

Chico César: O povo brasileiro é um dos maiores produtores de cultura por combinar realidades muito diversas como uma realidade rural e com uma realidade super tecnológica. Você tem São Paulo e anda um pouco e vai encontrar uma aldeia indígena ou um quilombo. Então, poucos povos do mundo têm essa diversidade e essa capacidade de produzir cultura a partir de contradições tão acirradas.

GCM: E a respeito do público, o que você acha?

CC: O público brasileiro é um dos mais ativos, mais críticos e mais participativos. É um público bastante fazedor de cultura e que consome as coisas com as quais se identifica.

GCM: Na sua opinião, o que poderia ser feito para a cultura brasileira ser mais difundida? Você acha que o povo brasileiro tem acesso a cultura ou a maioria ainda é a elite?

CC: Na verdade, eu não concordo com essa visão de que a elite é o grupo que tem mais acesso à cultura. Em qualquer lugar do Brasil que você vai, mesmo uma pessoa com uma casa muito pobre, muito simples, vai ter um santo ou imagem na parede, uma rosa arranjada de determinado jeito, uma pequena escultura. Eu acho bastante apropriada a relação que, pelo menos o povo do Brasil que eu conheço tem com os seus símbolos, com a sua iconografia.

Eu acho que poderia se fazer pela cultura tem que começar pela economia. Se você puder pagar bons salários para os pais de família, puder fornecer saúde e educação pública já é um bom começo. Transporte e segurança também, para que as pessoas possam se deslocar e ir até os lugares, isso já muda bastante. Porque a cultura não é um fato isolado. Você tem eventos como a Virada Cultural na cidade de São Paulo, a Virada Cultural no interior. Eu pude tocar em Presidente Prudente onde, inclusive, toquei “Odeio, Rodeio” e as pessoas cantaram na rua.

Então, eu vejo assim; eu acho que o povo do Brasil é muito generoso e muito aberto à cultura e uma coisa que me preocupa um pouco é que tudo vire evento. Grandes festivais, grandes mostras de teatro, grandes mostras de cinema, porque aí a coisa deixa de ser cultura e vira entretenimento. E entretenimento tanto faz, quer dizer, do mesmo jeito que você tem uma Sandy como entretenimento para uma grande massa, você tem uma Maria Rita como entretenimento para uma massa intelectual. Se a relação com o produto cultural não for uma relação crítica, vivenciada, ela é tão alienante quanto. Tanto faz você ouvir Los Hermanos quanto ouvir CPM 22. Tanto faz você ouvir Zeca Baleiro se a sua relação com aquilo é entretenimento quanto Chitãozinho e Xororó. (...) Eu acho que a gente tem que ter bastante cuidado e olhar criticamente para como nós mesmos nos relacionamos com os nossos produtos artísticos, com a nossa cultura, e se a gente não está entrando em uma lógica dos eventos, e aí você às vezes pensa: “Aquele monte de gente no museu da língua portuguesa” como será que isso está entrando na cabeça delas? Isso vai torná-las mais ativas socialmente? Ou isso é tipo um gado que vai comer um capim diferente?”

GCM: O que você acha de um Espaço como esse (Espaço Cultural CPFL) que traz desde música popular brasileira até palestras de filosofia, debates de cinema e tudo isso com entrada franca? Você conhece algum outro lugar no Brasil que tenha esse tipo de Espaço? Você já se apresentou lá?

CC: Eu tenho contato com bastante gente de fora do Brasil, artistas que vêm gravar disco, vêm fazer show no país e ficam alguns dias. São artistas que vivem na Europa e que ficam muito admirados como no Brasil tem coisa subsidiada. Você vai no Sesc e paga 5 reais, vai no Centro Cultural Vergueiro e tem gente que paga 50 centavos e tem gente que paga 13 reais. Aí os caras falam “de onde vem isso?”, “como é que tem tanta coisa de cultura e que se paga tão pouco?”. Porque às vezes a gente se olha e pensa no Brasil como um lugar atrasado, selvagem e tal. E a gente se acostumou com algumas coisas e reivindica mais. Tá certo.

Mas quem vem de fora, fica muito admirado de ter tanta coisa em que se cobra tão pouco e também coisas que são de graça mesmo. Show em parque, virada cultural. Isso não é comum no mundo. Eu passei a saber disso quando esses meus amigos comentaram. Então assim, agente tem 250 Sescs no Brasil. Se o Ministério da Cultura funcionasse como Sesc o país já seria muita coisa. Por exemplo, esses centros culturais como o Espaço Cultural CPFL, o Itaú Cultural em São Paulo. Isso começa, inclusive, com um tipo de herança paternalista, lá atrás que vem de Getúlio Vargas. Proteger e dar tratamento dentário para os trabalhadores. Aí vem alguém e fala: “E se agente criasse um grêmio recreativo, cultural, e uma bandinha, uma orquestrinha?”. Aí vira um espaço onde as pessoas se encontram.

Um dia desses, eu fui tocar perto de Florianópolis. Fui lançar o livro, era uma feira ao ar livre. Era uma cidade pequena e ficou a cidade inteira mobilizada com isso. Eu acho muito bom que as pessoas tenham acesso e que cada vez mais esse acesso possa ser um acesso crítico, dissociado do entretenimento. Porque do entretenimento ao lazer e do lazer à alienação são pequenos passos que a gente dá sem sentir. E poxa, é um espaço maravilhoso que você pode vir com as crianças. A gente vê que as pessoas gostam tanto que fica gente pra fora. E nessa hora dá pena, sabe? Aí tem que ficar vendo ali pelo telão. Não tem outro jeito, né?

Então, o único jeito é ter mais espaços, mais coisas acontecendo pra que as pessoas possam se espalhar e falar “puxa, mas no mesmo dia vai ter Tom Zé, Arnaldo Antunes e Paulinho Mosca”. Será que Campinas suporta isso? Claro que suporta. Você perde o Tom Zé e o Paulinho Mosca hoje, mas vê o Arnaldo Antunes. Depois, quando eles voltarem, você troca e vai poder encontrar depois no bar. As pessoas vão se encontrar, aqueles que forem nesse ou naquele vão comentar e trocar experiências da visão de como elas viveram aquilo.

Eu acho que é preciso criar cada vez mais esse tipo de aparelho, de instrumento, de equipamento. É muito importante uma cidade ter isso. À medida que as cidades perderam os cinemas. Agora os cinemas são nos shoppings por causa da questão da segurança. As livrarias foram quase todas pros shoppings. Você não tem mais livrarias de pé de calçada, com o dono lá, onde você conhece seus clientes. Hoje é mais impessoal. Eu sinto falta disso, porque eu trabalhei em livraria que era também loja de discos e na minha cidade também tinha um cinema que foi fechado. Assim como no Brasil inteiro, cinemas foram fechados e foram para os shoppings.

GCM: Então, qual seria uma solução para isso? Fazer pequenos núcleos em vez de grandes shows , talvez pequenas coisas?

CC: Eu acho que o ideal seria associar cultura como uma coisa do cotidiano. Por exemplo, na Virada Cultural você faz só o show. Você traz a Mônica Salmaso e a leva para o interior. Isso por si só não resolve. Agora se você juntar com a educação... a professora de artes nas escolas mostra o disco da Mônica Salmaso na aula, os estudantes de teatro dramatizam alguma música dela, os alunos de matemática discutem, sei lá, quantas pessoas... se você coloca esses números, esses dados no cotidiano das pessoas. Não adianta só fazer o evento, isso não facilita a compreensão. Mesmo pra quem gosta, porque música, cultura, às vezes, a pessoa nem conhece, então a pessoa só conhece um tipo de coisa, sei lá Sula Miranda. Não adianta levar Mônica Salmaso... mas se antes mostra na escola, se a TV local passa um especial desse artista... quando a pessoa chegar lá vai encontrar um público crítico porque uns vão gostar mais e outros menos. Mas eu acho que assim... fazer é melhor do que não fazer... o importante é avançar e fazer algo mais crítico, que tirem as pessoas da condição de consumidores. Não adianta você ter uma revista como “raça”, que tem os pretos como consumidores de um tipo de xampu... “pô” você tem que ver o cara como um cidadão. É bom para quem fabrica o xampu, mas acho que isso não cria cidadania, você cria consumo, que é a lógica do sistema... você ter consumidores não críticos porque o consumidor crítico é cidadão e vai questionar e levar esse questionamento para outras áreas da vida dele, não só daquilo especificamente.

2 comentários:

Gabriela Borini disse...

cultura multimídia detonaaaa! =P

Francine Esqueda disse...

Olá, Ainda estou sorrindo com as coisas que vi por aqui! Bom demais descobrir este blog, tão completo, agradável e caprichado... A –DO – REI - !!! Com certeza voltarei!
Um grande abraço e bom fim de semana!